Instinto — sabedoria programada antes do nascimento
“SÃO tão extraordinários muitos dos instintos que o seu desenvolvimento parecerá sem dúvida, ao leitor, um obstáculo suficiente para solapar toda a minha teoria”, escreveu Darwin. Ele evidentemente achava que o instinto era uma dificuldade irrespondível, pois sua frase seguinte foi: “Começo por notar que não tenho mais o propósito de procurar a origem das faculdades mentais do que as da vida.”
Os cientistas hodiernos não estão mais próximos de explicar o instinto do que esteve Darwin. Certo evolucionista afirma: “O simples fato é que o mecanismo genético não demonstra o mínimo sinal de poder transmitir específicos padrões de comportamento. . . . Quando nos perguntamos como é que surgiram quaisquer padrões instintivos de comportamento, em primeiro lugar, e se tornaram fixados hereditariamente, não nos dão nenhuma resposta.”
Todavia, certo livro sobre aves, que goza de ampla circulação, diferente de Darwin e de outros evolucionistas, não vê dificuldade alguma em explanar um dos mais misteriosos instintos — o que envolve a migração. Afirma: “Não há dúvida de que o processo foi evolutivo. Espécies originárias de climas quentes [provavelmente] dispersaram-se em busca de alimentos.”
Pode tal resposta simplista explicar os espantosos feitos de muitas aves migradoras? Os cientistas sabem que quaisquer de tais dispersões experimentais e comportamentos aprendidos não são incorporados ao código genético, e, assim, não são herdados pelos descendentes. A migração é admitidamente instintiva e “independe de experiências passadas”. Considere alguns exemplos.
Assombrosos Feitos de Migradores
As campeãs do vôo a longa distância são as andorinhas-do-mar-árticas. Aninhando-se ao norte do Círculo Ártico, no fim do verão setentrional elas voam para o sul, para passar o verão da Antártida sobre a calota polar, próximo do Pólo Sul. Talvez circundem o inteiro continente da Antártida antes de se dirigirem para o norte, de volta ao Ártico. Elas, assim, completam uma migração anual de uns 35.500 quilômetros. Ricos suprimentos alimentares acham-se disponíveis em ambas as regiões polares, de modo que um cientista suscita a pergunta: “Como foi que chegaram a descobrir que tais fontes existiam em lugares tão distantes um do outro?” A evolução não provê resposta.
Igualmente inexplicável para a evolução é a migração do pássaro chamado mariquita-estriada. Pesa somente uns 21 gramas. Todavia, no outono setentrional, voa do Alasca (EUA) para a costa oriental do Canadá ou para a Nova Inglaterra, EUA, empanturra-se de alimento, acumula gordura e então espera uma frente fria. Quando esta chega, essa ave alça vôo. Sua destinação final é a América do Sul, mas, primeiro, ela voa em direção à África. Bem sobre o oceano Atlântico, voando a uma altitude de cerca de 7.000 metros, ela pega o vento prevalecente que a transfere de rota para a América do Sul.
Como é que a mariquita-estriada sabe que deve esperar a frente fria, e que esta significa bom tempo e um vento de popa? Como é que sabe que deve subir cada vez mais alto, onde o ar é rarefeito e frio, e apresenta 50 por cento menos oxigênio? Como é que sabe que somente nessa altitude é que sopra o vento cruzado que a levará para a América do Sul? Como é que sabe que deve voar em direção à África para aproveitar a corrente sudoeste deste vento? A mariquita-estriada não tem conhecimento consciente de quaisquer destas coisas. Neste percurso de uns 3.800 quilômetros, sobre mares sem pistas evidentes, voando durante três ou quatro dias e noites, é governada apenas pelo instinto.
As cegonhas-brancas passam o verão na Europa, mas voam quase 13.000 quilômetros para invernar na África do Sul. O maçarico-do-campo faz o percurso desde a tundra do Ártico até os Pampas da Argentina. Certos maçariquinhos migram 1.600 quilômetros além dos Pampas, para o extremo meridional da América do Sul. Batuíras de certo gênero (Numenius taitiensis) voam do Alasca até o Taiti e outras ilhas, por mais de 9.600 quilômetros em mar aberto. Num vôo muito mais curto, porém igualmente notável, considerando-se seu tamanho, o colibri-de-garganta-de-rubi, de uns 3 gramas de peso, em sua migração de 960 quilômetros, atravessa o golfo do México, batendo suas pequeninas asas até 75 vezes por segundo durante 25 horas. Mais de seis milhões de batidas de asas, sem parar!
Muitos vôos migratórios são efetuados pela primeira vez por aves jovens, sem nenhuma ave adulta. Os jovens cucos-de-cauda-longa da Nova Zelândia percorrem cerca de 6.500 quilômetros até as ilhas do Pacífico, para juntar-se a seus pais que já tinham partido antes. Os pufinos-dos-ingleses migram do País de Gales para o Brasil, deixando atrás os filhotes, que os seguem assim que conseguem voar. Um deles fez a viagem em 16 dias, perfazendo em média 740 quilômetros por dia. Um pufino-dos-ingleses foi levado do País de Gales para Boston (EUA), muito longe de sua rota migratória normal. Todavia, voltou para sua toca no País de Gales, a mais de 5.100 quilômetros de distância, em 12 dias e meio. Alguns pombos-correios, levados a uns 1.000 quilômetros em qualquer direção, voltaram para seus pombais em um dia.
Um último exemplo: As aves que não voam, mas caminham e nadam. Considere os pingüins (manchotes) de Adélia. Quando removidos para uns 1.900 quilômetros de suas colônias, sendo então soltos, eles rapidamente se orientaram e partiram em linha reta, não para as colônias de onde foram tirados, mas para o mar aberto e o alimento. Do mar, por fim retornaram às colônias. Passam os invernos, quase que totalmente escuros, no mar. Mas, como é que os pingüins permanecem orientados durante o escuro inverno? Ninguém sabe.
Como é que as aves realizam estes feitos de navegação? Experimentos indicam que talvez se sirvam do sol e das estrelas. Parecem dispor de relógios internos que compensam o movimento destes corpos celestes. Mas, e se o céu estiver encoberto? Pelo menos algumas aves dispõem de bússolas magnéticas inerentes para serem utilizadas nesse caso. Precisam, porém, de mais do que a orientação duma bússola. Precisam ter um “mapa” na cabeça, indicando tanto o ponto de partida como o da destinação. E, nesse mapa, a rota precisa estar demarcada, uma vez que raramente se trata duma linha reta. Nada disso ajudaria, porém, a menos que soubessem onde estão localizadas no mapa! O pufino-dos-ingleses tinha de saber onde estava quando foi solto em Boston (EUA), a fim de determinar a direção para o País de Gales. O pombo-correio tinha de saber para onde fora levado a fim de determinar o caminho em direção ao seu pombal.
Até mesmo na Idade Média a realidade da ampla migração das aves era assunto discutido por muitos, mas a Bíblia já falava dela no sexto século AEC: “A cegonha no céu conhece o seu tempo, a pomba, a andorinha e a garça observam o tempo de seu retorno.” Até os nossos dias, já se aprendeu muita coisa, mas grande parte ainda constitui um mistério. Quer o aprecie, quer não, o que a Bíblia diz é verídico: “Ele deu aos homens o senso de tempo, passado e futuro, mas nenhuma compreensão quanto à obra de Deus, do começo ao fim.” — Jeremias 8:7, Bíblia Vozes; Eclesiastes 3:11, The New English Bible (A Nova Bíblia Inglesa).
Outros Navegadores
Os caribus do Alasca (EUA) migram uns 1.300 quilômetros para o sul no inverno setentrional. Muitas baleias percorrem mais de 9.500 quilômetros indo e voltando ao oceano Ártico. As focas fornecedoras de pele migram entre as ilhas Pribilof e o sul da Califórnia (EUA), por mais de 4.800 quilômetros. As tartarugas-marinhas verdes navegam da costa do Brasil para a pequenina ilha de Ascensão, a 2.250 quilômetros em mar aberto pelo oceano Atlântico, e daí retornam. Alguns caranguejos migram até 240 quilômetros sobre o leito oceânico. Os salmões deixam os riachos em que eclodiram e passam alguns anos no mar aberto, daí, voltam percorrendo centenas de quilômetros para os mesmos riachos em que nasceram. Enguias jovens que nasceram no mar dos Sargaços, no Atlântico, passam a maior parte da vida nos riachos de água doce nos Estados Unidos e na Europa, mas voltam ao mar dos Sargaços para desovar.
As borboletas monarcas deixam o Canadá no outono setentrional, muitas passando o inverno setentrional na Califórnia (EUA) ou no México. Alguns vôos ultrapassam os 3.200 quilômetros; certa borboleta cobria 120 quilômetros por dia. Elas repousam em árvores abrigadas — os mesmos bosques, até as mesmas árvores, ano após ano. Mas, não são as mesmas borboletas! Na volta, na primavera setentrional, depositam ovos em asclépias. As novas borboletas assim produzidas prosseguem sua migração para o norte, e, no outono setentrional seguinte, fazem a mesma viagem que seus pais fizeram, de 3.200 quilômetros para o sul, cobrindo os mesmos bosques de árvores. O livro The Story of Pollination (A História da Polinização) comenta: “As borboletas que vêm para o sul no outono [setentrional] são indivíduos jovens que jamais viram antes os locais de hibernação. O que as habilita a encontrá-los ainda é um dos mistérios desconcertantes da Natureza.”
A sabedoria instintiva não se limita à migração. Uma rápida amostra prova este ponto.
Como podem milhões de térmites cegas sincronizar seus labores para construir e prover de ar condicionado suas primorosas estruturas? Instinto.
Como é que a mariposa Pronuba (mariposa da iúca) sabe os vários passos a tomar para fazer a polinização cruzada da flor de iúca, através da qual tanto novas iúcas como novas mariposas podem formar-se? Instinto.
Como pode a aranha que vive em seu “sino de mergulhador” sob a água saber que, quando o oxigênio se exaure, tem de abrir um buraco em seu sino submerso, liberar o ar estagnado, fechar o buraco, e trazer para baixo novo suprimento de ar fresco? Instinto.
Como é que o besouro do gênero Oncideres cingulata sabe que tem de pôr seus ovos sob a casca dum ramo de mimosa, chegar a uns 30 centímetros, mais ou menos, do tronco, e cortar a casca em toda a volta a fim de matar o ramo, porque seus ovos não eclodirão em madeira viva? Instinto.
Como é que o filhote de canguru, do tamanho dum grão de feijão, nascido cego e subdesenvolvido, sabe que, para sobreviver, tem de esforçar-se de subir, sem ser ajudado, pelos pêlos da mãe, até chegar ao abdome e entrar na bolsa dela, e então prender-se a uma de suas tetas? Instinto.
Como é que a abelha melífera, ao dançar, relata a outras abelhas onde está o néctar, quanto existe dele, quão distante se acha, em que direção se encontra e em que tipo de flor? Instinto.
Tais perguntas poderiam prosseguir indefinidamente e encher um livro, todavia, todas as perguntas obteriam a mesma resposta: “São instintivamente sábias.” (Provérbios 30:24) “Como foi possível”, admira-se um pesquisador, “que tal conhecimento instintivo complexo se desenvolvesse e fosse repassado a gerações sucessivas?” Os homens não conseguem explicá-lo. A evolução não sabe a que atribuí-lo. Mas tal inteligência ainda demanda uma fonte inteligente. Tal sabedoria ainda exige uma fonte sábia. Exige um Criador inteligente e sábio.
Todavia, muitos que crêem na evolução rejeitam automaticamente, como irrelevante, toda essa evidência a favor da criação, afirmando não se tratar de um assunto para consideração científica. Não obstante, não permita que este enfoque míope o impeça de pesar tal evidência. Apresenta-se mais no próximo artigo.