Você é ímpar!
Você é ímpar!

Você é ímpar!

ANTES de iniciar um novo dia você se olha no espelho para checar a sua aparência? Nessas ocasiões, talvez não tenha tempo para pensar muito no assunto. Mas, tire um tempinho agora e maravilhe-se com o que está envolvido numa simples olhada no espelho.

Com os olhos você se vê em cores, mesmo que a visão em cores não seja essencial para viver. A posição dos ouvidos lhe dá uma audição estereofônica, que lhe permite localizar a origem dos sons, como a voz de uma pessoa amada. Isso pode parecer corriqueiro, mas, um livro para engenheiros acústicos comenta: “Em qualquer profundidade de exame do sistema auditivo humano, contudo, é difícil escapar à conclusão de que suas intricadas funções e estruturas apontam para a existência de uma mão generosa no seu projeto.”

O nariz também dá evidência de design maravilhoso. Por meio dele respiramos, o que nos mantêm vivos. E seus milhões de receptores sensitivos permitem-nos distinguir cerca de 10.000 odores diferentes. Quando comemos, outros sentidos atuam. Milhares de papilas gustativas transmitem-nos o sabor da comida, e outros receptores, na língua, ajudam-nos a saber se os dentes estão limpos.

Nós temos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. É verdade que alguns animais têm visão noturna mais penetrante, olfato mais sensível ou audição mais aguçada do que nós. Mas o equilíbrio desses sentidos no homem certamente permite-lhe destacar-se dos animais em muitos sentidos.

Vejamos, porém, por que podemos nos beneficiar dessas habilidades e capacidades. Todas elas dependem daquele órgão, de cerca de um quilo e meio, encerrado em nossa cabeça: o cérebro. Os animais têm cérebros funcionais, mas o cérebro humano tem qualidades próprias que nos tornam inegavelmente ímpares. Como assim? E o que isso tem a ver com o nosso interesse numa vida significativa e duradoura?

O maravilhoso cérebro

Há anos o cérebro humano é comparado a um computador, mas, segundo descobertas recentes, essa comparação deixa muito a desejar. “Como começar a entender o funcionamento de um órgão que tem uns 50 bilhões de neurônios com um quatrilhão de sinapses (conexões), e com capacidade de operação de talvez 10 quatrilhões de vezes por segundo?”, perguntou o Dr. Richard M. Restak. Sua resposta? “O desempenho até mesmo do mais avançado computador de rede neural . . . tem cerca de um décimo de milésimo da capacidade mental de uma mosca.” Imagine, então, a distância que separa o computador do cérebro humano, tão fantasticamente superior!

Que computador pode consertar a si mesmo, reescrever o seu programa ou se aprimorar com o passar dos anos? Quando é preciso ajustar um sistema computadorizado, um programador precisa escrever novas instruções codificadas e dar entrada delas no sistema. O cérebro faz isso automaticamente, tanto na infância como na idade avançada. Não é exagero dizer que os computadores mais modernos são bem primitivos em comparação com o cérebro. Os cientistas chamam-no de “a estrutura mais complicada que se conhece” e de “o objeto mais complexo do Universo”. Veja algumas descobertas que levam muitos a concluir que o cérebro humano é produto de um Criador que se importa.

Use-o ou perca-o

Invenções úteis, como carros e aviões a jato, são basicamente limitadas pelos mecanismos e sistemas elétricos fixos que os homens projetam e instalam. Em contraste, o cérebro é, no mínimo, um mecanismo ou sistema biológico altamente flexível. Pode mudar de acordo com o uso — ou abuso. Dois fatores principais parecem determinar como o cérebro se desenvolve durante a vida: o que nós permitimos que entre nele através de nossos sentidos e a nossa escolha de pensamentos.

Embora certos fatores hereditários possam influir no desempenho mental, pesquisas modernas mostram que a capacidade do cérebro não é fixada pelos genes na concepção. “Ninguém suspeitava que o cérebro fosse tão mutável como a ciência agora sabe que ele é”, escreveu o autor Ronald Kotulak, ganhador do prêmio Pulitzer. Após entrevistar mais de 300 pesquisadores, ele concluiu: “O cérebro não é um órgão estático; é uma sempre mutável massa de conexões de células profundamente afetadas pela vivência.” — Inside the Brain.

Mas as experiências na vida não são a única maneira de moldar o cérebro. O nosso modo de pensar também o afeta. Os cientistas verificam que o cérebro de quem continua mentalmente ativo tem até 40% mais conexões (sinapses) entre as células nervosas (neurônios) do que o de pessoas mentalmente ociosas. Os neurocientistas concluem: se não o usar, vai perdê-lo. E os idosos? Parece que há certa perda de células cerebrais com o envelhecimento, e a idade avançada pode causar perda de memória. Mas a diferença é muito menor do que se cria antes. Uma matéria na revista National Geographic sobre o cérebro humano dizia: “Os idosos . . . retêm a capacidade de gerar novas conexões e de preservar as antigas via atividade mental.”

Descobertas recentes sobre a flexibilidade do cérebro harmonizam-se com os conselhos da Bíblia. Esse livro de sabedoria exorta os leitores a ‘se transformarem reformando a sua mente’ ou a ‘se renovarem’ pela assimilação de “conhecimento exato”. (Romanos 12:2; Colossenses 3:10) As Testemunhas de Jeová têm visto isso acontecer, quando as pessoas estudam a Bíblia e aplicam os seus conselhos. Muitos milhares, de todas as formações sociais e culturais, têm feito isso. Eles preservam a sua individualidade, mas tornam-se mais felizes e mais equilibrados, exibindo o que um escritor do primeiro século chamou de “bom juízo”. (Atos 26:24, 25) Essas melhoras vêm em grande parte pelo bom uso de uma área do córtex cerebral localizada na parte frontal da cabeça.

O lobo frontal
A maioria dos neurônios na camada externa do cérebro, o córtex cerebral, não está ligada diretamente a músculos e a órgãos sensoriais. Por exemplo, considere os bilhões de neurônios que compõem o lobo frontal. (Veja o desenho, na página 56.) Exames do cérebro provam que o lobo frontal se ativa quando você pensa numa palavra ou evoca recordações. A parte frontal do cérebro desempenha um papel especial em você ser o que você é.

“O córtex pré-frontal . . . está mais ligado à formulação de pensamentos, à inteligência, às motivações e à personalidade. Ele associa experiências necessárias para a criação de idéias abstratas, critérios, persistência, planejamento, preocupação com outros e consciência. . . . São as formulações dessa região que distinguem os seres humanos dos outros animais.” (Human Anatomy and Physiology, de Marieb) Certamente vemos evidência dessa distinção nas realizações humanas em campos como a matemática, a filosofia e a justiça, que envolvem primariamente o córtex pré-frontal.

Por que os humanos têm um córtex pré-frontal grande e flexível, que contribui para funções mentais mais elevadas, ao passo que nos animais essa área é rudimentar ou inexistente? O contraste é tão grande que os biólogos que dizem que nós evoluímos de animais falam da “misteriosa explosão no tamanho do cérebro”. O professor de Biologia Richard F. Thompson, notando a extraordinária expansão do nosso córtex cerebral, admite: “Ainda não entendemos claramente por que isso aconteceu.” Poderia ser que o homem foi criado com essa capacidade cerebral ímpar?

Inigualável capacidade de comunicação

Outras partes do cérebro também contribuem para sermos ímpares. Atrás do córtex pré-frontal há uma faixa que passa pelo topo do cérebro: o córtex motor. Nele há bilhões de neurônios que se conectam com os músculos. Ele tem também características que contribuem para sermos muito diferentes dos macacos ou de outros animais. O córtex motor primário nos dá “uma capacidade excepcional (1) de usar as mãos para executar trabalhos altamente engenhosos e (2) de usar a boca, os lábios, a língua e os músculos faciais para falar”. — Textbook of Medical Physiology, de Guyton.

Considere brevemente como o córtex motor afeta a sua capacidade de falar. Mais da metade dele controla os órgãos de comunicação, que ajuda a explicar a inigualável capacidade de comunicação dos humanos. Embora as mãos desempenhem um papel na comunicação (na escrita, nos gestos normais ou na linguagem de sinais), a boca em geral desempenha a maior parte. A fala humana — da primeira palavra de um bebê até a voz de uma pessoa de mais idade — é inquestionavelmente uma maravilha. Cerca de 100 músculos na língua, nos lábios, nos maxilares, na garganta e no peito interagem para produzir inumeráveis sons. Note este contraste: uma célula cerebral pode comandar 2.000 fibras do músculo da barriga da perna de um atleta, mas as células cerebrais para a laringe podem concentrar-se em apenas 2 ou 3 fibras musculares. Não sugere isso que o nosso cérebro é especialmente equipado para a comunicação?

Cada frase curta que você pronuncia exige um padrão específico de movimentos musculares. O significado de uma expressão pode mudar, dependendo do grau de movimento e da sincronização ultra-rápida de muitos músculos diferentes. “Num ritmo confortável”, explica o fonoaudiólogo Dr. William H. Perkins, “nós pronunciamos cerca de 14 sons por segundo. Isso é duas vezes mais rápido do que podemos controlar a língua, os lábios, os maxilares e outras partes do aparelho fonador quando os acionamos separadamente. Mas quando usamos todas essas partes juntas para falar, elas comportam-se como os dedos de um exímio datilógrafo ou de um grande pianista. Seus movimentos combinam-se numa sinfonia de requintada sincronização.”

As informações necessárias para simplesmente perguntar “como vai?” estão armazenadas numa parte do lobo frontal do cérebro chamada de área de Broca, que alguns consideram ser o centro de articulação da palavra. O neurocientista e prêmio Nobel Sir John Eccles escreveu: “Nenhuma área correspondente à . . . área de Broca, de controle da fala, foi encontrada em macacos.” Mesmo se uma área similar for encontrada em animais, o fato é que os cientistas não conseguem fazer com que os macacos produzam mais do que uns poucos grunhidos. O ser humano, porém, pode produzir uma linguagem complexa, juntando palavras segundo a gramática de sua língua. A área de Broca ajuda-o a fazer isso, na fala e na escrita.

Naturalmente, não se pode exercer o milagre da fala sem conhecer pelo menos um idioma e entender o significado de suas palavras. Isso envolve outra parte especial do cérebro, conhecida como área de Wernicke. Ali, bilhões de neurônios discernem o significado de palavras faladas ou escritas. A área de Wernicke ajuda a pessoa a entender o que ouve ou o que lê, podendo assim adquirir e assimilar informações.

Há ainda outros fatores envolvidos na linguagem fluente. Para ilustrar: Um “olá” pode transmitir muitos sentidos. O tom da voz indica se você está feliz, emocionado, aborrecido, apressado, incomodado, triste ou amedrontado, e pode até mesmo revelar graus desses estados emocionais. Outra área do cérebro fornece informações para o lado emocional da linguagem. Portanto, várias regiões do cérebro entram em ação quando você se comunica.

Alguns chimpanzés foram ensinados a usar uma versão simplificada da linguagem de sinais, mas seu uso basicamente se limita a simples pedidos de comida ou de outras coisas básicas. Com experiência em ensinar alguns gestos simples de comunicação a chimpanzés, o Dr. David Premack concluiu: “A linguagem humana é um embaraço para a teoria evolucionária porque sua capacidade é tremendamente maior do que se possa explicar.”

Podemos perguntar: ‘Por que os humanos têm essa habilidade maravilhosa de comunicar pensamentos e sentimentos, de fazer perguntas e de dar respostas?’ A Encyclopedia of Language and Linguistics diz que “a fala [humana] é especial” e admite que “a busca de precursores na comunicação animal pouco ajuda a transpor o enorme abismo que separa a linguagem e a fala dos comportamentos não-humanos”. O professor Ludwig Koehler resumiu a diferença: “A fala humana é um segredo, um dom divino, um milagre.”

Como é grande a diferença entre o uso de sinais por um macaco e a complexa capacidade lingüística de uma criança! Sir John Eccles falou a respeito do que a maioria de nós também já observou, isto é, a habilidade “exibida até mesmo por crianças de três anos com sua torrente de perguntas no seu desejo de entender o seu mundo”. Ele acrescentou: “Em contraste, os macacos não fazem perguntas.” Sim, só os seres humanos formulam perguntas, inclusive sobre o sentido da vida.

Memória, e muito mais!

Quando você se olha no espelho, talvez lhe venha à mente como era a sua aparência quando você era mais jovem, até mesmo comparando-a com a sua possível aparência no futuro, ou como seria se aplicasse cosméticos. Esses pensamentos podem surgir quase inconscientemente, mas é algo muito especial, que nenhum animal pode experimentar.

Diferente dos animais, que vivem principalmente em função de suas necessidades presentes, os humanos podem lembrar do passado e planejar o futuro. A chave para isso é a quase ilimitada capacidade de memória do cérebro. É verdade que os animais têm certo grau de memória, que lhes permite encontrar o caminho de volta para casa ou lembrar-se de onde encontrar alimentos. A memória humana é muito superior. Certo cientista calculou que o nosso cérebro pode reter informações que “encheriam uns vinte milhões de volumes, tantos quantos os existentes nas maiores bibliotecas do mundo”. Alguns neurocientistas estimam que num período de vida médio a pessoa usa apenas 1/100 de 1% (0,0001) do potencial do cérebro. Pode-se perguntar: ‘Por que temos um cérebro com tanta capacidade que mal usamos uma fração dele num período de vida normal?’

O nosso cérebro tampouco é apenas um vasto local de armazenagem de dados, como um supercomputador. Os professores de Biologia Robert Ornstein e Richard F. Thompson escreveram: “A habilidade que a mente humana tem de aprender — de armazenar e de lembrar-se de informações — é o mais notável fenômeno no universo biológico.

Tudo o que nos torna seres humanos — a linguagem, o pensamento, o conhecimento, a cultura — é resultado dessa extraordinária capacidade.”

Ademais, a nossa mente é consciente. Essa declaração pode parecer básica, mas ela resume algo que nos torna inquestionavelmente únicos. A mente tem sido descrita como “a esquiva entidade onde a inteligência, a tomada de decisões, a percepção, o estado de alerta e o sentimento de si mesmo residem”. Assim como córregos, riachos e rios correm para o mar, as recordações, pensamentos, imagens, sons e sentimentos constantemente entram ou passam pela nossa mente. A consciência, diz certa definição, é “a percepção do que se passa na mente do próprio homem”.

Pesquisadores modernos avançaram muito na compreensão da composição física do cérebro e de alguns dos processos eletroquímicos que ocorrem nele. Sabem também explicar os circuitos e o funcionamento de um computador avançado. Contudo, existe uma enorme diferença entre cérebro e computador. O cérebro deixa você consciente e cônscio de sua existência, o que certamente não acontece com o computador. Por que essa diferença?

Como e por que a consciência emerge de processos físicos no cérebro é realmente um mistério. “Não vejo como alguma ciência possa explicar isso”, disse certo neurobiologista. Também, o professor James Trefil observou: “O que, exatamente, significa um humano ser consciente . . . é a única grande pergunta nas ciências que nem mesmo sabemos como formular.” Uma das razões é que os cientistas usam o cérebro para tentar entender o cérebro. E estudar apenas a fisiologia do cérebro talvez não baste. A consciência é “um dos mistérios mais profundos da existência”, observou o Dr. David Chalmers, “mas apenas conhecer o cérebro pode não levar [os cientistas] à raiz do mistério”.

No entanto, todos nós somos conscientes. Por exemplo, as vívidas recordações de eventos passados não são meros fatos armazenados, como dados de informação num computador. Podemos refletir sobre nossas experiências, tirar lições delas e usá-las para moldar o nosso futuro. Podemos cogitar várias situações futuras e avaliar os possíveis efeitos de cada uma. Temos a capacidade de analisar, criar, apreciar e amar. Podemos ter conversas agradáveis sobre o passado, o presente e o futuro. Temos valores éticos de comportamento e podemos usá-los ao tomar decisões que podem, ou não, ser de benefício imediato. Somos atraídos à beleza nas artes e na moral. Na mente podemos moldar e refinar as nossas idéias e imaginar como os outros reagirão, caso as concretizemos.

Esses fatores produzem uma percepção que distingue os humanos das outras formas de vida na Terra. O cachorro, o gato ou o pássaro se vêem num espelho e reagem como se estivessem vendo outro de sua espécie. Mas quando você se olha no espelho, você se reconhece como ser dotado das capacidades acima mencionadas. Você pode refletir sobre dilemas, como: ‘Por que algumas tartarugas vivem 150 anos e algumas árvores mais de 1.000 anos, ao passo que um ser humano inteligente é notícia se chegar aos 100?’ Diz o Dr. Richard Restak: “O cérebro humano, e somente o cérebro humano, tem a capacidade de recuar no passado, examinar a sua própria atuação e, assim, conseguir certo grau de transcendência. De fato, a nossa capacidade de reescrever o nosso próprio roteiro e de nos redefinir no mundo é o que nos distingue de todas as outras criaturas no mundo.”

A consciência humana intriga alguns. O livro Life Ascending, embora prefira uma simples explicação biológica, admite: “Quando nos perguntamos como é possível que um processo [a evolução] parecido com um jogo de azar, com penalidades terríveis para os perdedores, poderia ter gerado qualidades como o amor ao belo e à verdade, a compaixão, a liberdade e, acima de tudo, a expansividade do espírito humano, ficamos perplexos. Quanto mais pensamos nos nossos recursos espirituais, tanto maior o nosso espanto.” Uma grande verdade! Assim, podemos concluir o nosso exame da qualidade ímpar da natureza humana com algumas evidências de nossa consciência que ilustram por que muitos estão convencidos de que tem de existir um Projetista inteligente, um Criador, que se importa conosco.

Arte e beleza

“Por que as pessoas buscam tão apaixonadamente a arte?”, pergunta o professor Michael Leyton em seu livro Symmetry, Causality, Mind (Simetria, Causalidade, Mente). Como ele destaca, alguns talvez digam que a atividade mental, como a matemática, é obviamente benéfica para os humanos, mas de que serve a arte? Leyton argumenta dizendo que as pessoas viajam grandes distâncias para ver exibições de arte e concertos. Que emoção íntima está envolvida? Similarmente, pessoas em todo o mundo penduram belas fotos ou quadros nas paredes de sua casa ou de seu escritório. Ou considere a música. A maioria gosta de ouvir certo estilo de música em casa ou no carro. Por quê?

Certamente não é porque a música alguma vez tenha contribuído para a sobrevivência do mais apto. “A arte talvez seja o fenômeno mais inexplicável da espécie humana”, diz Leyton.

Todos nós sabemos, no entanto, que apreciar a arte e a beleza faz parte daquilo que nos faz sentir “humanos”. Um animal sentado numa colina talvez olhe para o céu colorido, mas será que se sente atraído pela beleza em si? A beleza de um riacho de montanha refletindo os raios do sol nos atrai, contemplamos com espanto a deslumbrante variedade numa floresta tropical, nos encantamos com uma praia ladeada de coqueiros ou admiramos um céu preto-aveludado, salpicado de estrelas. Muitas vezes nos extasiamos, não é mesmo? Belezas assim abrasam o nosso coração, elevam o nosso espírito. Por quê?

Por que é que temos um anseio inato por coisas que materialmente pouco contribuem para a nossa sobrevivência? De onde vêm os nossos valores estéticos? Se não aceitarmos um Criador que moldou esses valores ao criar o homem, essas perguntas ficam sem respostas satisfatórias. Dá-se o mesmo com relação à beleza moral.

Valores morais

Muitos consideram as boas ações como forma superior de beleza. Por exemplo, ser leal a princípios em face deperseguição, agir com altruísmo para minorar o sofrimento de outros e perdoar quem nos causa o mal são ações que agradam ao senso moral de pessoas refletivas em toda a parte. Esse é o tipo de beleza mencionado no antigo provérbio bíblico: “A perspicácia do homem certamente torna mais vagarosa a sua ira, e é beleza da sua parte passar por alto a transgressão.” Ou como diz outro provérbio: “A coisa desejável no homem terreno é a sua benevolência.” — Provérbios 19:11, 22.

Todos nós sabemos que há pessoas, e até mesmo grupos, que ignoram ou pisoteiam os valores elevados, mas a maioria não faz isso. De que fonte vêm os valores morais presentes praticamente em todas as áreas e em todos os períodos? Se não existe nenhuma Fonte de moralidade, nenhum Criador, será que o certo e o errado originaram-se simplesmente de pessoas, da sociedade humana? Veja um exemplo: a maioria dos indivíduos e dos grupos acham errado o assassinato. Mas pode-se perguntar: ‘Errado em comparação com o quê?’ Obviamente, existe um senso de moralidade que inspira a sociedade humana em geral e que tem sido incorporado nas leis de muitos países. Qual é a fonte desse padrão de moralidade? Não poderia ter sido um Criador inteligente, que tem valores morais, e que implantou a faculdade da consciência, ou senso ético, nos humanos? — Note Romanos 2:14, 15.

Podemos pensar no futuro e planejá-lo

Outra faceta da consciência humana é a nossa capacidade de considerar o futuro. Quando lhe perguntaram se os humanos têm traços que os distinguem dos animais, o professor Richard Dawkins reconheceu que o homem tem, sim, qualidades ímpares. Depois de mencionar “a habilidade de planejar usando a previsão consciente, imaginada”, Dawkins acrescentou: “Benefícios a curto prazo sempre foram o que valeu na evolução; benefícios a longo prazo nunca valeram. Jamais foi possível que algo evoluísse caso fosse ruim para o bem imediato, a curto prazo, do indivíduo. Pela primeira vez agora é possível que, pelo menos algumas pessoas, digam: ‘Esqueça que você pode lucrar a curto prazo derrubando esta floresta; já pensou no benefício a longo prazo?’ Isso, sim, acho genuinamente novo e ímpar.”

Outros pesquisadores confirmam que a capacidade humana de planejar com consciência e a longo prazo não tem igual. O neurofisiologista William H. Calvin diz: “À parte dos preparativos para o inverno e para o acasalamento, ditados pelos hormônios, os animais dão surpreendentemente pouca evidência de que planejam mais do que poucos minutos à frente.” Alguns animais armazenam alimentos antes de uma estação fria, mas eles não ponderam as coisas nem planejam. Em contraste, os humanos consideram o futuro, até mesmo o futuro distante. Alguns cientistas pensam no que pode acontecer com o Universo daqui a bilhões de anos. Já se perguntou por que o homem — tão diferente dos animais — é capaz de pensar no futuro e fazer planos?

A Bíblia diz a respeito do ser humano: “[O Criador] pôs até mesmo tempo indefinido no seu coração.” A versão Almeida (IBB) traduz assim: “Pôs na mente do homem a idéia da eternidade.” (Eclesiastes 3:11) Nós usamos diariamente essa capacidade distintiva, mesmo num gesto tão simples como nos olhar no espelho e imaginar como será a nossa aparência daqui a 10 ou 20 anos. E nós confirmamos o que diz Eclesiastes 3:11 quando, mesmo casualmente, pensamos em conceitos como a infinidade do tempo e do espaço. Simplesmente termos essa capacidade harmoniza-se com o comentário de que um Criador pôs ‘eternidade na mente do homem’.

Atraídos a um Criador

Muitas pessoas, porém, não encontram satisfação plena em desfrutar a beleza, fazer o bem ao próximo e pensar no futuro. “É muito estranho”, nota o professor C. Stephen Evans, “que mesmo nos nossos mais felizes e prezados momentos de amor, muitas vezes sintamos que nos falta algo. Queremos mais, sem saber o que é esse mais que queremos”. De fato, os humanos conscientes — diferente dos animais com quem dividimos esse planeta — sentem ainda outra necessidade.

“A religião está profundamente arraigada na natureza humana e manifesta-se em todos os níveis de condição econômica e formação cultural.” Isso resume a pesquisa que o professor Alister Hardy apresenta em The Spiritual Nature of Man (A Natureza Espiritual do Homem). Ela confirma o que muitos outros estudos já estabeleceram: crer em Deus é próprio do homem. Embora indivíduos possam ser ateus, nações inteiras não são. O livro Is God the Only Reality? (É Deus a Única Realidade?) observa: “A ânsia religiosa de sentido [na vida] . . . é a experiência comum em toda cultura e toda era desde o surgimento da humanidade.”

De onde vem essa aparentemente inata percepção de que Deus existe? Se o homem fosse um mero ajuntamento acidental de ácido nucléico e moléculas de proteína, o que levaria essas moléculas a desenvolver amor pela arte e pela beleza, tornar-se religiosas e pensar na eternidade?

Para Sir John Eccles a explicação evolucionista da existência do homem “falha num aspecto muito vital: não explica a existência de cada um de nós como ser ímpar de consciência própria”. Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro e da mente, mais fácil é ver por que milhões de pessoas concluíram que a existência consciente do homem é evidência de que existe um Criador que se importa conosco.

No artigo seguinte, veremos por que pessoas de todas as camadas sociais verificam que essa conclusão racional lança a base para respostas satisfatórias a perguntas vitais: Por que existimos, e para onde vamos?