O Criador se revela — em nosso benefício!
ENTRE trovões e relâmpagos, cerca de três milhões de pessoas estavam de pé diante de uma montanha, na península do Sinai. Nuvens cobriam o monte Sinai, e o solo tremia. Nessas circunstâncias memoráveis, Moisés levou o Israel antigo a uma relação formal com o Criador do céu e da Terra. — Êxodo, capítulo 19; Isaías 45:18.
Mas, por que o Criador do Universo se revelaria de forma especial a uma determinada nação, ainda mais comparativamente pequena? Moisés esclareceu: “Foi por Jeová vos amar e por ele cumprir a declaração juramentada que fizera aos vossos antepassados.” — Deuteronômio 7:6-8.
Essa declaração indica que na Bíblia há muito mais informações do que apenas fatos sobre a origem do Universo e a vida na Terra. Ela tem muito a dizer sobre os tratos do Criador com os humanos — no passado, no presente e no futuro. A Bíblia é o livro mais estudado e de maior circulação no mundo, de modo que toda pessoa que preza a educação devia conhecer o seu conteúdo. Façamos um apanhado geral do conteúdo da Bíblia, primeiro da parte mais conhecida como Velho Testamento. Ao fazermos isso, obteremos também uma valiosa compreensão da personalidade do Criador do Universo e Autor da Bíblia.
No Capítulo 6, “Um antigo registro da criação — Pode-se confiar nele?”, vimos que o relato bíblico da criação apresenta fatos exclusivos acerca de nossos primeiros ancestrais — as nossas origens. Esse primeiro livro bíblico contém muito mais. Exemplos?
A mitologia grega e outras falam de uma época em que deuses e semideuses tinham tratos com os humanos. Também, segundo os antropólogos, ao redor do globo existem lendas sobre um antigo dilúvio que aniquilou a maior parte da humanidade. Você pode, com razão, descartar tais mitos. No entanto, sabia que apenas o livro de Gênesis revela-nos os fatos históricos básicos que mais tarde encontraram eco nesses mitos e lendas? — Gênesis, capítulos 6, 7.
No livro de Gênesis pode-se ler também acerca de homens e mulheres — pessoas fidedignas com quem podemos nos identificar — que sabiam da existência do Criador e levavam em conta a Sua vontade nas suas vidas. Temos a obrigação de saber a respeito de homens como Abraão, Isaque e Jacó, que estavam entre os “antepassados” mencionados por Moisés. O Criador veio a conhecer a Abraão e chamou-o de “meu amigo”. (Isaías 41:8; Gênesis 18:18, 19) Por quê? Jeová havia observado e adquirido confiança em Abraão como homem de fé. (Hebreus 11:8-10, 17-19; Tiago 2:23) O caso de Abraão mostra que Deus é acessível. Seu poder e capacidade são espantosos, mas ele não é mera força ou causa impessoal. Ele é uma pessoa real com quem humanos como nós podem cultivar uma relação respeitosa — em nosso benefício eterno.
Jeová prometeu a Abraão: “Todas as nações da terra hão de abençoar a si mesmas por meio de teu descendente.” (Gênesis 22:18) Isso amplia, ou estende, a promessa feita nos dias de Adão a respeito de um futuro “descendente”. (Gênesis 3:15) Sim, o que Jeová disse a Abraão confirmou a esperança de que alguém — o Descendente — viria no devido tempo e colocaria à disposição de todos os povos uma bênção. Verá que esse é o tema central que permeia toda a Bíblia, confirmando que ela não é uma coleção de diversos escritos humanos. E conhecer o tema da Bíblia ajudará você a entender que Deus usou uma nação antiga — com o alvo de abençoar todas as nações. — Salmo 147:19, 20.
Ter tido esse objetivo ao lidar com Israel indica que Jeová ‘não é parcial’. (Atos 10:34; Gálatas 3:14) Ademais, mesmo quando Deus lidava primariamente com os descendentes de Abraão, pessoas de outras nações eram bem-vindas para também servirem a Jeová. (1 Reis 8:41-43) E, como veremos mais adiante, a imparcialidade de Deus é de tal ordem que todos nós hoje — seja qual for a nossa formação nacional ou étnica — podemos conhecê-lo e agradá-lo.
Podemos aprender muito da história da nação com a qual o Criador lidou por séculos. Vamos dividi-la em três partes. Ao considerarmos essas partes, note como Jeová sempre agiu à altura do significado de seu nome, “Ele Causa que Venha a Ser”, e como a sua personalidade se manifestou nos seus tratos com pessoas reais.
Parte Um — uma nação governada pelo Criador
Os descendentes de Abraão tornaram-se escravos no Egito. Por fim Deus convocou Moisés, que os levou à liberdade em 1513 AEC. Quando Israel tornou-se uma nação, Deus era seu governante. Mas, em 1117 AEC, o povo quis ter um rei humano.
Que acontecimentos levaram Israel a estar com Moisés no monte Sinai? O livro bíblico de Gênesis fornece o fundo histórico. Tempos antes, quando Jacó (também chamado de Israel) vivia ao nordeste do Egito, ocorreu uma fome em todo o mundo então conhecido. O zelo por sua família levou Jacó a buscar alimentos no Egito, onde havia um grande estoque de cereais. Ele descobriu que o administrador dos alimentos era na verdade seu filho José, que Jacó achava que tinha morrido anos antes. Jacó e sua família mudaram-se para o Egito e foram convidados a permanecer ali. (Gênesis 45:25-46:5; 47:5-12) No entanto, depois da morte de José, um novo Faraó arregimentou os descendentes de Jacó para trabalho forçado e ‘amargurava-lhes a vida com dura escravidão, em argamassa argilosa e em tijolos’. (Êxodo 1:8-14) Poderá ler esse vívido relato, e muito mais, no segundo livro bíblico, Êxodo.
Os israelitas sofreram maus-tratos por décadas, e ‘seu clamor por ajuda ascendia ao Deus verdadeiro’. Recorrer a Jeová era o proceder sábio. Ele estava interessado nos descendentes de Abraão e decidido a cumprir o Seu objetivo de prover uma bênção futura para todos os povos. Jeová ‘ouviu os gemidos de Israel e reparou neles’, indicando que o Criador se compadece dos oprimidos e sofredores. (Êxodo 2:23-25) Ele escolheu Moisés para liderar a libertação de Israel da escravidão. Mas, quando Moisés e seu irmão, Arão, pediram ao Faraó do Egito permissão para que esse povo escravizado partisse, ele respondeu desafiadoramente: “Quem é Jeová, que eu deva obedecer à sua voz para mandar Israel embora?” — Êxodo 5:2.
Poderia imaginar o Criador do Universo deixar-se intimidar por esse desafio, mesmo da parte do governante da maior potência militar da época? Deus golpeou Faraó e os egípcios com uma série de pragas. Finalmente, depois da décima praga, Faraó concordou em libertar os israelitas. (Êxodo 12:29-32) Assim, os descendentes de Abraão vieram a conhecer a Jeová como pessoa real — que traz a liberdade no Seu devido tempo. Sim, como seu nome indica, Jeová tornou-se cumpridor de suas promessas de uma maneira dramática. (Êxodo 6:3) Mas, tanto Faraó como os israelitas aprenderiam ainda mais a respeito desse nome.
Isso aconteceu porque Faraó logo mudou de idéia. Ele liderou seu exército numa feroz caçada aos escravos que partiam, alcançando-os perto do mar Vermelho. Os israelitas ficaram encurralados entre o mar e o exército egípcio. Jeová interveio, abrindo uma passagem pelo mar Vermelho. Faraó devia ter reconhecido nisso uma demonstração do poder invencível de Deus. Em vez disso, lançou as suas forças contra os israelitas — e morreu afogado junto com o seu exército quando Deus fez com que o mar voltasse à sua posição normal. O relato em Êxodo não diz exatamente como Deus realizou esses feitos. Podemos chamá-los corretamente de milagres, pois as ações e seu momento para acontecer fugiam ao controle humano. Certamente, tais ações não seriam impossíveis para Quem criou tanto o Universo como todas as suas leis. — Êxodo 14:1-31.
Esse evento demonstrou para os israelitas — e deve incutir em nós também — que Jeová é um Salvador que age à altura de seu nome. Contudo, devemos discernir desse relato ainda outros aspectos dos caminhos de Deus. Por exemplo, ele agiu com justiça contra uma nação opressiva e foi benévolo com Seu povo, através do qual viria o Descendente. A respeito deste último, o que lemos em Êxodo é obviamente muito mais do que história antiga; relaciona-se com o propósito de Deus de colocar uma bênção à disposição de todos.
Para uma terra prometida
Saindo do Egito, Moisés e o povo marcharam pelo deserto até o monte Sinai. Os eventos ali estabeleceram a base para os tratos de Deus com a nação por séculos à frente. Ele proveu leis. Naturalmente, eras antes disso o Criador já formulara as leis que governam a matéria no Universo, que ainda vigoram. Mas, no monte Sinai, ele usou Moisés para fornecer leis nacionais. Podemos ler o que Deus fez, bem como a Lei que ele forneceu, no livro de Êxodo e nos três livros que se seguem — Levítico, Números e Deuteronômio. Os eruditos acreditam que Moisés também escreveu o livro de Jó. Consideraremos alguns pontos de seu importante conteúdo no Capítulo 10.
Até hoje, milhões de pessoas em todo o mundo conhecem e procuram obedecer aos Dez Mandamentos, a orientação moral, central, da Lei inteira. Esta Lei, porém, contém muitas outras diretrizes, que são admiradas por sua excelência. Compreensivelmente, muitos regulamentos centralizavam-se na vida israelita daquele tempo, tais como regras sobre higiene, saneamento e doenças. Embora dadas inicialmente a um povo antigo, tais leis refletem conhecimento sobre fatos científicos que os especialistas humanos só descobriram a partir do último século. (Levítico 13:46, 52; 15:4-13; Números 19:11-20; Deuteronômio 23:12, 13) Pode-se muito bem perguntar: Como podiam as leis dadas ao Israel antigo refletir conhecimentos e sabedoria muito superiores ao que era conhecido por nações contemporâneas? Uma resposta razoável é que essas leis originaram-se do Criador.
Essas leis serviam também para preservar as sucessões familiares e prescreveram deveres religiosos que os israelitas deviam cumprir até a chegada do Descendente. Por concordarem em fazer tudo o que Deus lhes pedia, eles se comprometiam a obedecer a essa Lei. (Deuteronômio 27:26; 30:17-20) Eles não conseguiriam obedecer à Lei com perfeição, é verdade. No entanto, mesmo isso serviria a um bom objetivo. Mais tarde, um perito em leis explicou que a Lei ‘tornou manifestas as transgressões, até que chegasse o descendente a quem se fizera a promessa’. (Gálatas 3:19, 24) Portanto, a Lei fez deles um povo à parte, lembrou-lhes que necessitavam do Descendente, ou Messias, e preparou-os para acolhê-lo.
Os israelitas, reunidos no monte Sinai, concordaram em seguir a Lei de Deus. Desse modo, eles passaram a entrar no que a Bíblia chama de pacto, ou acordo. O pacto foi entre aquela nação e Deus. Apesar de terem entrado voluntariamente nesse pacto, mostraram ser um povo obstinado. Por exemplo, fizeram um bezerro de ouro para representar a Deus. Fazerem isso era pecado, pois a adoração de ídolos violava diretamente os Dez Mandamentos. (Êxodo 20:4-6) Ademais, eles se queixaram das provisões divinas, rebelaram-se contra o líder designado por Deus (Moisés) e tiveram relações imorais com mulheres estrangeiras, adoradoras de ídolos. Mas de que interesse é isso para nós, que vivemos tão distante dos dias de Moisés?
Novamente, não se trata de simples história antiga. Os relatos bíblicos a respeito da ingratidão de Israel e das reações de Deus mostram que ele realmente se importa. A Bíblia diz que os israelitas punham Jeová à prova “vez após vez”, fazendo-o sentir-se “magoado” e ‘penado’. (Salmo 78:40, 41) Isso nos dá certeza de que o Criador tem sentimentos e se importa com o que os humanos fazem.
De nosso ponto de vista, talvez pudéssemos pensar que as transgressões de Israel levariam Deus a cancelar o seu pacto e, talvez, selecionar outra nação para cumprir a sua promessa. Mas ele não fez isso. Em vez disso, puniu os transgressores flagrantes, mas foi misericordioso com a nação delinqüente como um todo. Sim, Deus permaneceu leal à promessa feita ao seu fiel amigo Abraão.
Não muito tempo depois, Israel chegou perto de Canaã, que a Bíblia chama de Terra Prometida. Era habitada por um povo poderoso, mergulhado em práticas moralmente degradantes. O Criador havia concedido que se passassem 400 anos sem intervir na vida deles, mas agora, com justiça, decidiu dar a terra deles ao Israel antigo. (Gênesis 15:16; veja também “Em que sentido um Deus ciumento?”, nas páginas 132-3.) Como preparativo, Moisés enviou 12 espiões à terra. Dez deles mostraram falta de fé no poder salvador de Jeová. Seu relatório levou o povo a murmurar contra Deus e a conspirar para retornar ao Egito. Em resultado, Deus sentenciou o povo a vaguear no ermo por 40 anos. — Números 14:1-4, 26-34.
Em que resultou esse julgamento? Antes de sua morte, Moisés admoestou os filhos de Israel a se lembrarem daqueles anos durante os quais Jeová os havia humilhado. Moisés disse-lhes: “Bem sabes no teu próprio coração que Jeová, teu Deus, te corrigia assim como um homem corrige seu filho.” (Deuteronômio 8:1-5) Apesar de o terem insultado, Jeová os sustentara, demonstrando que eles dependiam dele. Por exemplo, eles sobreviveram porque ele proveu a nação de maná, uma substância comestível com sabor de “bolachas de mel”. Obviamente, eles deviam ter aprendido muito de sua experiência no ermo. Devia ter sido provada a importância de obedecerem ao seu Deus misericordioso e confiarem nele. — Êxodo 16:13-16, 31; 34:6, 7.
Após a morte de Moisés, Deus encarregou Josué de liderar Israel. Esse homem valente e leal conduziu a nação até Canaã e corajosamente empreendeu a conquista da terra. Em pouco tempo, Josué derrotou 31 reis e ocupou a maior parte da Terra Prometida. Essa história emocionante encontra-se no livro de Josué.
Governo sem rei humano
Durante a jornada no ermo e os primeiros anos na Terra Prometida, a nação tinha como líder Moisés e depois Josué. Os israelitas não precisavam de um rei humano, pois Jeová era seu Soberano. Ele providenciou que anciãos fossem designados para tratar de ações jurídicas nos portões da cidade. Eles preservavam a ordem e ajudavam o povo espiritualmente. (Deuteronômio 16:18; 21:18-20) O livro de Rute apresenta uma visão fascinante de como tais anciãos resolveram uma causa com base na lei em Deuteronômio 25:7-9.
No decorrer dos anos, a nação muitas vezes caiu no desfavor de Deus, desobedecendo-o repetidas vezes e recorrendo a deuses cananeus. Mesmo assim, quando ela se metia em sérios apuros e invocava a sua ajuda, Jeová a socorria. Ele convocava juízes para liderar na libertação de Israel, salvando-a de povos vizinhos opressores. O livro chamado Juízes apresenta vividamente as proezas de 12 desses corajosos juízes. — Juízes 2:11-19; Neemias 9:27.
O registro diz: “Naqueles dias não havia rei em Israel. Cada um costumava fazer o que era direito aos seus próprios olhos.” (Juízes 21:25) A nação tinha os padrões estabelecidos na Lei, portanto, com a ajuda dos anciãos e do ensino dos sacerdotes, as pessoas tinham uma base para “fazer o que era direito aos seus próprios olhos”, com segurança. Ademais, a Lei provia um tabernáculo, ou templo portátil, onde se ofereciam sacrifícios. A adoração verdadeira centralizava-se ali e isso ajudava a unir a nação naquele tempo.
Parte Dois — prosperidade sob o domínio de reis
Quando Samuel era juiz em Israel, o povo exigiu um rei humano. Os três primeiros reis — Saul, Davi e Salomão — reinaram 40 anos cada um, de 1117 a 997 AEC. Israel atingiu seu pináculo de riqueza e glória, e o Criador tomou medidas importantes em preparação do reinado do vindouro Descendente.
Como juiz e profeta, Samuel zelou pelo bem-estar espiritual de Israel, mas seus filhos eram diferentes. O povo por fim exigiu de Samuel: “Designa-nos deveras um rei para nos julgar, igual a todas as nações.” Jeová explicou a Samuel o sentido do pedido deles: “Escuta a voz do povo . . . pois, não é a ti que rejeitaram, mas é a mim que rejeitaram como rei sobre eles.” Jeová previu as conseqüências tristes dessa nova situação. (1 Samuel 8:1-9) No entanto, segundo a exigência deles, Deus nomeou um rei sobre Israel e o escolhido foi Saul, um homem modesto. Apesar de seu começo promissor, depois de tornar-se rei, Saul revelou tendências rebeldes e infringiu os mandamentos de Deus. O profeta de Deus anunciou que o reinado seria dado a um homem de quem Jeová se agradasse. Isso nos deve fazer ver quanto o Criador valoriza a obediência de coração. — 1 Samuel 15:22, 23.
Davi, que viria a ser o próximo rei de Israel, era o filho mais novo de uma família da tribo de Judá. Sobre essa escolha surpreendente, Deus disse a Samuel: “O mero homem vê o que aparece aos olhos, mas quanto a Jeová, ele vê o que o coração é.” (1 Samuel 16:7) Não é animador saber que o Criador olha o que somos no íntimo e não as aparências? Mas Saul tinha as suas próprias idéias. Desde que Jeová escolhera Davi como futuro rei, Saul ficou obcecado com a idéia de eliminar Davi. Jeová não permitiu isso, e Saul e seus filhos acabaram morrendo numa batalha contra um povo beligerante, os filisteus.
Davi reinava na cidade de Hébron. Depois, ele capturou Jerusalém, para onde mudou a sua capital. Ele também estendeu as fronteiras de Israel até o pleno limite da terra que Deus prometera dar aos descendentes de Abraão. Poderá ler sobre esse período (e a história de reis posteriores) em seis livros históricos da Bíblia. Eles revelam que a vida de Davi não foi uma vida sem problemas. Por exemplo, sucumbindo ao desejo humano, ele cometeu adultério com a bela Bate-Seba e daí cometeu outros erros para encobrir o seu pecado. Como Deus justo, Jeová não poderia simplesmente ignorar o erro de Davi. Mas, devido ao seu arrependimento sincero, Deus não exigiu a aplicação rígida da penalidade da Lei. Ainda assim, Davi viria a ter muitos problemas familiares em resultado de seus pecados.
Durante todas essas crises, Davi veio a conhecer a Deus como pessoa — alguém com sentimentos. Ele escreveu: “Jeová está perto de todos os que o invocam . . . e ouvirá seu clamor por ajuda.” (Salmo 145:18-20) A sinceridade e a devoção de Davi estão claramente expressas nos lindos cânticos que ele compôs, que constituem cerca da metade do livro de Salmos. Milhões têm derivado consolo e encorajamento dessa poesia. Considere a intimidade de Davi com Deus, como reflete o Salmo 139:1-4: “Ó Jeová, tu me esquadrinhaste e me conheces. Tu mesmo chegaste a conhecer meu assentar e meu levantar. De longe consideraste meu pensamento. . . . Pois não há palavra na minha língua, mas eis que tu, ó Jeová, já sabes de tudo.”
Davi conhecia em especial o poder salvador de Deus. (Salmo 20:6; 28:9; 34:7, 9; 37:39) Toda vez que ele o experimentava, a sua confiança em Jeová aumentava. Você pode ver evidências disso no Salmo 30:5; 62:8 e 103:9. Ou leia o Salmo 51, que Davi compôs depois de ter sido censurado pelo pecado com Bate-Seba. Como é reanimador saber que podemos prontamente expressar nossos sentimentos ao Criador, certos de que ele não é arrogante mas humildemente se dispõe a ouvir! (Salmo 18:35; 69:33; 86:1-8) Davi não chegou a tal apreço apenas pela experiência. “Meditei em toda a tua atuação”, escreveu, “mantive-me voluntariamente preocupado com o trabalho das tuas próprias mãos”. — Salmo 63:6; 143:5.
Jeová fez um pacto especial com Davi, referente a um reino eterno. Davi provavelmente não entendia o pleno alcance desse pacto, mas, à base de detalhes registrados na Bíblia mais tarde, vemos que Deus estava indicando que o Descendente prometido viria da linhagem de Davi. — 2 Samuel 7:16.
O sábio Rei Salomão e o sentido da vida
Salomão, filho de Davi, ficou famoso por sua sabedoria, e podemos nos beneficiar dela lendo os livros muito práticos de Provérbios e Eclesiastes. (1 Reis 10:23-25) Este último é especialmente útil para quem busca um sentido na vida, como fez o sábio Rei Salomão. Como primeiro rei israelita nascido numa família real, Salomão tinha amplas perspectivas diante de si. Ele fez construções majestosas, podia saborear uma variedade impressionante de alimentos, apreciava a música e a companhia de pessoas notáveis. No entanto, ele escreveu: “Eu, sim, eu me virei para todos os meus trabalhos que minhas mãos tinham feito e para a labuta em que eu tinha trabalhado arduamente para a realizar, e eis que tudo era vaidade [ou, futilidade].” (Eclesiastes 2:3-9, 11) A que conclusão isso levou?
Salomão escreveu: “A conclusão do assunto, tudo tendo sido ouvido, é: Teme o verdadeiro Deus e guarda os seus mandamentos. Pois esta é toda a obrigação do homem. Pois o próprio verdadeiro Deus levará toda sorte de trabalho a julgamento com relação a toda coisa oculta, quanto a se é bom ou mau.” (Eclesiastes 12:13, 14) Em harmonia com isso, Salomão empreendeu a construção de um templo glorioso, que levou sete anos, onde as pessoas podiam adorar a Deus. — 1 Reis, capítulo 6.
Por muitos anos, o reinado de Salomão foi marcado por paz e abundância. (1 Reis 4:20-25) Mesmo assim, seu coração não mostrou ser tão pleno para com Jeová como o de Davi. Salomão arranjou muitas esposas estrangeiras e permitiu que estas desviassem seu coração para os deuses delas. Jeová disse, por fim: “Sem falta arrancarei de ti o reino . . . Darei uma tribo ao teu filho, por causa de Davi, meu servo, e por causa de Jerusalém.” — 1 Reis 11:4, 11-13.
Parte Três — o reino dividido
Depois da morte de Salomão, em 997 AEC, dez tribos do norte se separaram. Estas formaram o reino de Israel, que os assírios conquistaram em 740 AEC. Os reis em Jerusalém reinavam sobre duas tribos. Este reino, Judá, durou até que os babilônios conquistaram Jerusalém (em 607 AEC) e levaram seus habitantes como prisioneiros. Judá ficou desolado por 70 anos.
Quando Salomão morreu, seu filho Roboão assumiu o poder e tornou dura a vida do povo. Isso resultou numa revolta, e dez tribos se separaram formando o reino de Israel. (1 Reis 12:1-4, 16-20) No decorrer dos anos, esse reino do norte não permaneceu fiel ao Deus verdadeiro. O povo não raro se curvava perante ídolos em forma de bezerro de ouro, ou praticava outras formas de adoração falsa. Alguns reis foram assassinados e suas dinastias, derrubadas por usurpadores. Jeová mostrou grande paciência, enviando repetidas vezes profetas para alertar a nação de uma futura tragédia caso continuasse com a sua apostasia. Os livros de Oséias e Amós foram escritos por profetas cujas mensagens centralizavam-se nesse reino do norte. Por fim, em 740 AEC, os assírios causaram a tragédia que os profetas de Deus haviam predito.
No sul, 19 reis sucessivos da casa de Davi reinaram em Judá até 607 AEC. Os reis Asa, Jeosafá, Ezequias e Josias governaram como seu antepassado Davi, e ganharam o favor de Jeová. (1 Reis 15:9-11; 2 Reis 18:1-7; 22:1, 2; 2 Crônicas 17:1-6) Durante o reinado desses reis, Jeová abençoou a nação. A The Englishman’s Critical and Expository Bible Cyclopædia observa: “O grande fator conservador de J[udá] foi o seu templo estabelecido por Deus, o sacerdócio, a lei escrita e o reconhecimento do único Deus verdadeiro, Jeová, como seu verdadeiro rei teocrático. . . . Essa obediência à lei . . . produziu uma sucessão de reis com muitos monarcas sábios e bons . . . Assim, J[udá] sobreviveu mais tempo do que a sua irmã do norte, mais populosa.” O número de reis bons foi muito inferior ao daqueles que não andaram nos caminhos de Davi. Mesmo assim, Jeová guiou as coisas de modo que ‘Davi, seu servo, continuasse a ter sempre uma lâmpada diante de Si em Jerusalém, a cidade que Deus escolhera para pôr o Seu nome’. — 1 Reis 11:36.
Para a destruição
Manassés foi um dos reis de Judá que se afastou da adoração verdadeira. “Ele fez o seu próprio filho passar pelo fogo, e praticou a magia e procurou presságios, e constituiu médiuns espíritas e prognosticadores profissionais de eventos. Fez em grande escala o que era mau aos olhos de Jeová, para o ofender.” (2 Reis 21:6, 16) O Rei Manassés levou seu povo a ‘fazer pior do que as nações que Jeová aniquilara’. Depois de repetidas vezes advertir Manassés e seu povo, o Criador declarou: “Vou esfregar Jerusalém até ficar limpa, assim como se esfrega um tacho sem asas.” — 2 Crônicas 33:9, 10; 2 Reis 21:10-13.
Como prelúdio disso, Jeová permitiu que os assírios capturassem Manassés e o levassem preso com grilhões de cobre. (2 Crônicas 33:11) No exílio, Manassés caiu em si e “continuou a humilhar-se grandemente por causa do Deus de seus antepassados”. Como reagiu Jeová? “[Deus] ouviu seu pedido de favor, e restaurou-o a Jerusalém ao seu reinado; e Manassés veio a saber que Jeová é o verdadeiro Deus.” Tanto o Rei Manassés como seu neto, o Rei Josias, realizaram reformas necessárias. Mesmo assim, a nação não abandonou permanentemente a vasta degradação moral e religiosa. — 2 Crônicas 33:1-20; 34:1-35:25; 2 Reis, capítulo 22.
Significativamente, Jeová enviou profetas zelosos para declararem o que ele achava a respeito do que estava acontecendo. Jeremias transmitiu as palavras de Jeová: “Desde o dia em que os vossos antepassados saíram da terra do Egito até o dia de hoje . . . continuei a enviar-vos todos os meus servos, os profetas, diariamente levantando-me cedo e enviando-os.” Mas as pessoas não escutavam a Deus. Agiam pior do que seus antepassados! (Jeremias 7:25, 26) Deus as advertia repetidas vezes ‘porque tinha compaixão do seu povo’. Mesmo assim, elas não correspondiam. De modo que Deus permitiu que os babilônios destruíssem Jerusalém e desolassem a terra em 607 AEC. Por 70 anos ela ficou abandonada. — 2 Crônicas 36:15, 16; Jeremias 25:4-11.
Esse breve retrospecto das ações de Deus devia ajudar-nos a reconhecer o interesse de Jeová por Sua nação e seus tratos justos com ela. Ele não ficou simplesmente à espera para ver o que o povo faria, como se não fizesse diferença para ele. Ele tentou ativamente ajudá-lo. Você pode compreender por que Isaías disse: “Ó Jeová, tu és nosso Pai. . . . Todos nós somos trabalho da tua mão.” (Isaías 64:8) Concordemente, muitos hoje chamam o Criador de “Pai”, pois ele é sensível como um pai humano amoroso e interessado. Contudo, ele também reconhece que temos de assumir a responsabilidade pelo nosso proceder e por seus resultados.
Depois de a nação ter passado 70 anos no cativeiro em Babilônia, Jeová Deus cumpriu sua profecia de restaurar Jerusalém. O povo foi libertado e permitiu-se que retornasse à sua terra natal para ‘reconstruir a casa de Jeová, que havia em Jerusalém’. (Esdras 1:1-4; Isaías 44:24-45:7) Vários livros bíblicos abordam essa restauração, a reconstrução do templo, ou os eventos que se seguiram. Um deles, Daniel, é particularmente interessante porque profetizou exatamente quando viria o Descendente, ou Messias, e predisse acontecimentos mundiais em nossos tempos.
O templo foi finalmente reconstruído, mas a situação de Jerusalém era deplorável. Suas muralhas e seus portões estavam em ruínas. De modo que Deus suscitou homens como Neemias, para encorajar e organizar os judeus. Uma oração que podemos ler em Neemias, capítulo 9, resume muito bem os tratos de Jeová com os israelitas. Apresenta Jeová como “Deus de atos de perdão, clemente e misericordioso, vagaroso em irar-se e abundante em benevolência”. Essa oração mostra também que Jeová age em harmonia com seu padrão de justiça perfeito. Mesmo quando tem bons motivos para usar seu poder para executar um julgamento ele sempre tempera a justiça com o amor. Fazer isso de modo equilibrado e excelente exige sabedoria. Obviamente, os tratos do Criador com a nação de Israel devem atrair-nos a ele e motivar-nos a nos interessar em fazer a Sua vontade.
Quando essa parte da Bíblia (o Velho Testamento) termina, Judá, com seu templo em Jerusalém, havia sido restaurado mas estava sob domínio pagão. Assim, como poderia cumprir-se o pacto de Deus com Davi a respeito de um ‘descendente’ que governaria “para todo o sempre”? (Salmo 89:3, 4; 132:11, 12) Os judeus ainda aguardavam o aparecimento do “Messias, o Líder”, que libertaria o povo de Deus e estabeleceria um reino teocrático (governado por Deus) na Terra. (Daniel 9:24, 25) Mas era esse o propósito de Jeová? Se não era, de que modo o prometido Messias traria a libertação? E como isso nos afeta hoje? O capítulo seguinte considerará essas perguntas vitais.
O artigo prossegue